quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

"É p'ra hoje?"



nota introdutória: 
a nossa caldeira nunca funcionou bem; regular a temperatura da água do duche cá em casa é uma ciência que de exacta tem muito pouco.

"Tommy, sais do banho hoje?..."

"Até saía mãe, mas acho que a água só vai ficar boa amanhã."

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

"não compliques"




Contrariamente às suas expectativas o Tiago ainda não foi atingido pela gripe. Manteve a esperança durante todo o fim-de-semana mas o cair da tarde de domingo chegou sem que nenhum (bendito) sintoma tivesse aparecido. O mesmo não se pode dizer da Teresa a quem coube a responsabilidade de fazer cumprir a regra 'de-outubro-a-abril-pelo-menos-um-com-tosse-e-pingos-mil'.

Perante a impossibilidade evidente de faltar à escola lá se decidiu fazer os trabalhos de casa.

'Escreve os números de 1 a 20.

Copia as frases e ilustra:

O Luís foi ao Castelo.

O Dinis tem um lápis.

A Francisca tem uma máscara.'
  
Tudo muito bem até chegar às ilustrações:

“Oh mãe, estes desenhos vão dar tanto trabalho…”

O Tiago tem uma preguiça enorme para desenhar o que quer que seja. Quando dou por mim, lá estou eu a tentar imitar o modo como desenha para o ajudar a terminar o tpc. Desta vez resolvi adoptar outra postura. Simplificar a tarefa em vez de a assumir:

“Não precisas de desenhar tudo. Na primeira, por exemplo, faz só o Castelo.”

Desenhou um Castelo, se é que se pode chamar Castelo a um quadrado com outros pequeninos em cima.

“No seguinte não precisas de fazer o Dinis, desenha só um lápis.”

“Mãe, se não desenhar o Dinis preciso de desenhar uma mesa para o lápis não ficar a cair! Ainda é pior!”

Afastei-me a rir: “Não compliques.”

Depois fui espreitar, para ver se tinha optado pela mesa ou pelo Dinis. Nada. Um lápis e uma máscara desafiavam, com sucesso, a lei da gravidade. Quanto ao Ti, já tinha desaparecido para gastar as suas energias em algo que fosse realmente divertido.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

morning rainbow II


Há dias, a nossa manhã cinzenta foi iluminada por um magnifico arco-íris. Ainda tentei fotografá-lo mas já estava prestes a desvanecer-se... o resultado não foi brilhante.
Parece que o arco-íris voltou a aparecer no céu esta sexta feira. No mesmo exacto local, sobre o rio. Desta vez deixou-se captar por uma objectiva decente, do meu amigo Renato Alves Costa. Deixo-vos as imagens. Deliciem-se. A vida é bela (com mais frequência do que imaginamos).





sábado, 23 de fevereiro de 2013

magnolia




Sempre achei que saber e gostar de plantas era coisa de 'belhinho'... o passar dos anos veio reforçar essa minha convicção. A caminhar para os 40, dou por mim a reparar (e a apreciar) cada vez mais tudo quanto é planta que me rodeia (plantas de exterior, entenda-se, pois dentro de casa continuo sem conseguir fazer sobreviver um simples cacto... lá chegarei, há que ter esperança).

Nos últimos tempos foram plantadas centenas de magnólias por estas bandas. Ruas despidas e suburbanas viram-se subitamente salpicadas por um manto verde que as transformou profundamente.

As magnólias estão agora em flor. Rosas, lilases ou brancas... lindas, a rasgar o ambiente frio e cinzento das manhãs de Fevereiro.

"Mãe, estas também já estão com flores!!"

"São bonitas não são?"

"São, mas vão cair. É pena não é?"

"É, mas depois vêm as folhinhas verdes."

"E as folhinhas depois ficam amarelas e caem... pena não é?"

"É, por isso vamos aproveitar o momento em que ainda estão lá em cima. Vão cair, é certo, mas nascerão outras."

"Era mais giro se as flores nunca caíssem..."

"Não era não. Deixavam de reparar nelas."

Não ficaram muito convencidos. Um dia, vão certamente perceber que a magia das árvores está neste ciclo interminável e talvez recordem com nostalgia as magnólias da sua infância. A mesma nostalgia com que recordo os plátanos da Praça Velásquez que se vestiam e despiam de cor com as estações do ano...

Sr. Presidente, como natural e residente da sua Junta de Freguesia, só tenho a agradecer-lhe esta ideia.  Nunca vi as nossas ruas tão bonitas. Não duvido que haja por aí um hortofloricultor (amigo do major) a ganhar rios de euros mas antes ele do que um artista de segunda especializado em esculturas para rotundas.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

era uma gripe, se faz favor.




Sempre detestei o Inverno. Desde que sou mãe, o meu ódio por esta época ganhou proporções megalómanas. E porquê? Porque juntamente com os primeiros pingos de chuva chegam os batalhões de vírus e bactérias. Entram pela porta dentro sem pedir autorização e ficam instalados cá em casa até ao final de Março. Saltam alegremente do Tomás para a Té, da Té para o Tiago, do Tiago para o pai, and so on. A despensa enche-se de antipiréticos, anti-inflamatórios, anti-tússicos, anti-histamínicos. A máquina de fumos volta ao activo. Os lenços de papel desaparecem a um ritmo imparável. Há sempre alguém doente. Às vezes mais do que um. Eu sou a única que passa, normalmente, ao largo (o André diz que é a minha ruindade que afasta a bicharada… prefiro acreditar que é apenas sorte).

Já pensei em propor ao Colégio uma redução do valor das mensalidades nos meses frios uma vez que durante esse período nunca tenho os 3 educandos em simultâneo a frequentar as instalações.

À data, os “famous five” apresentam duas baixas: o Tommy e o pai. É, de longe, a combinação mais difícil de gerir pois fico, sozinha, a braços com os dois mais novos (em rédea ainda mais solta para as suas birras e disputas) invejosos por não poderem faltar às aulas:

“Mãããeeee, porque é que o Tomás não vem para o Colégio?”
“Está mal disposto. Vai ter de ficar em casa.”
<…silêncio…>
“Meninos, vêm ou não? Já chamei o elevador.”
“Acho que me está a doer a cabeça…”
“Não inventes. Vamos lá.”
“Não, não é a cabeça. É a barriga.”
“Ti… estamos atrasados.”
“Não queres ver se tenho febre? Acho que estou quente.”

A Teresa põe a mãozita na testa do Tiago, abana negativamente a cabeça e sorri com a malvadez que a caracteriza. Ainda não é desta que se safa.

Entramos no elevador. O Tiago olha para o chão e murmura entredentes:
“Amanhã vou acordar maldisposto.”

O problema é que, para mal dos meus pecados, com jeitinho, vai mesmo.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

pink




“Mãe, pink escreve-se com ‘p’ não é?"

“Sim, meu querido.”

“E pink clarinho?”

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

girly mood




“Té, come a sopa.”

“Não qué.”

“Tééé, come a sopaaa…”

“Nããão qué.”

Tapa a boca com as duas mãos e abana a sua cabecita casmurra num tom desafiador…

Faço a minha melhor expressão 'vamos-ter-problemas-se-não-comes-imediatamente' ao qual me responde com o seu olhar 'então-vamos-lá-negociar'…

Aponta para as minhas unhas, depois para as suas e diz:

“Qué pintá.”

“Qué pintá? Ok. Uma colher por cada unha cor-de-rosa.”

A ala masculina da mesa abandona os seus postos antes que o cheiro a verniz inunde a sala.

Dez colheres, sem crise. Estivéssemos no verão e tivesse ela os pezitos descalços, tinha ido a sopa toda. 


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

stickermania



Os miúdos adoram autocolantes. No nosso tempo também gostávamos mas (para sorte dos nossos pais) tínhamos mais dificuldade em adquiri-los em grande quantidade. Hoje em dia há blocos inteiros com autocolantes de tudo o que possamos imaginar. Uma ida ao supermercado ou à loja do chinês permite arranjar em 2 minutos mais autocolantes do que nós conseguíamos em meio ano. Lá por casa os autocolantes começaram por encher as portas dos quartos. Daí passaram às paredes e, sem que eu tivesse tempo para o impedir, espalharam-se viralmente pela casa. Neste momento há noddys, faíscas, princesas e afins nos vidros, nos electrodomésticos, nos móveis e até no chão. Já só impeço a Té (que é a grande impulsionadora do movimento) de colar o que quer que seja na minha pessoa - a última vez que isso aconteceu fui ao supermercado, à padaria e à farmácia sem que nenhuma das almas sorridentes com que me cruzei tivesse tido a decência de me avisar que tinha um cupcake na testa.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

puzzlebooks



Tenho um problema com os livros-puzzle. Não com os de quatro ou seis peças, feitas de esponja ou borracha, que são giros e didácticos. Tenho um problema com os maiores (destinados a miúdos mais crescidos)  pelas razões que passo a apontar:

1. São grandes e pesados, difíceis de encaixar nas estantes e pouco práticos para empilhar dentro dos armários. Resultado: por mais impopulares que sejam, estão  sistematicamente à vista pela casa...

2. Por serem livros puzzle não têm mais de seis ou oito páginas o que torna, à partida,  as "histórias" pouco ou nada interessantes para o seu suposto público alvo.

3. Quarenta e oito peças por página... quarenta e oito peças por página significa um total de quase 300 peças por livro (de cartão fininho, muito fácil de mascar pela nossa gata) que se espalham no chão cada vez que alguém se lembra de pegar nele (e entenda-se que o pegar nele é sempre feito num modo onde-é que-eu-hei-de-guardar-isto? e nunca  no intuito de vamos-lá-fazer-estes-puzzles-e-depois-ler-a-história).

Esclareçam-me por favor: é suposto fazer os puzzles no próprio livro? Com a imagem por baixo a baralhar a tarefa? Ou devemos tirar as peças e fazer o puzzle fora? A segunda hipótese parece-me mais interessante mas leva-nos obrigatoriamente à primeira se tivermos a intenção de voltar a colocar as peças no seu lugar original...

Livros? Quantos mais melhor.
Puzzles? Idem.
Livros-puzzle? Fogueira com eles. 


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

kids' wisdom




"Mãe, tu és maior que o pai não és?"

"Sim, sou dois anos 'maior' que o pai..."

"É por isso que és tu quem manda cá em casa não é?"

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

obrigada, Sr. Eduardo...





A minha falta de interesse por jogos de consola prende-se principalmente com o facto de qualquer chimpanzé bem treinado fazer melhor figura do que eu com um comando na mão. Se tivesse jeito (e tempo) não tenho dúvidas que seria uma aficionada. Entendo o fascínio dos miúdos perante este universo e não sou fundamentalista em relação a isso. Resmungo quando acho que estão a jogar há tempo a mais? Claro. Eles ouvem-me? Às vezes.

Se pudesse banir alguns jogos de lá de casa, os escolhidos seriam os de guerra. Faz-me confusão ver um miúdo de 10 anos a jogar Call of Duty pela mesma razão pela qual não o levo a ver um filme do Tarantino. Mas os jogos lá estão e os dois meninos mais crescidos (André e Tomás, entenda-se) não prescindem deles. A única regra que consegui estabelecer foi que os banhos de sangue são proibidos na presença do Tiago e da Teresinha.

Há dias ouvi anunciar no ´Falar Global' uma entrevista com o Eduardo Sá acerca da influencia dos jogos violentos nas crianças e jovens. Não tenho especial simpatia pelo Eduardo Sá... aquele sorriso seráfico e aquela postura de quem consegue manter a calma no-matter-what (mais ou menos na onda do pai do Ruca) enervam-me um bocadinho. Tenho, no entanto, que admitir que o senhor diz umas coisas acertadas pelo que achei que seria uma óptima oportunidade para mostrar ao Tomás os malefícios daquele tipo de jogos: 

“Tommy!! Vem cá ouvir isto!!!"

O Tomás entra na cozinha, a passo arrastado, encosta-se ao balcão e fita a televisão sem uma réstia de entusiasmo.

 "...os jogos não levam necessariamente  a comportamentos violentos... gostava que as pessoas percebessem que a agressividade é um equipamento de base da natureza humana e portanto faz bem à saúde..."

Noto um leve sorriso do tipo não-era-bem-isto-que-estavas-a-espera-que-ele-dissesse...

"...temos de aprender a ser agressivos com maneiras e quanto menos nós brincamos com a agressividade mais violentos nos tornamos... os jogos são uma forma lúdica de ao brincarem com a violência a esvaziarem da sua componente mais destrutiva...sem agressividade ninguém cresce."

O meu filho está agora interessadíssimo e não desgruda os olhos da televisão.

"... ao jogar eles estão a esticar o cérebro. Se pudesse tornava os jogos um bocadinho obrigatórios..."

"Como se chama este senhor mãe?"

"Eduardo Sá..."

"Gosto dele."

O Eduardo Sá, continua, numa espiral pró-jogo que deita por terra qualquer argumento que eu tente encontrar:

"Quanto mais jogos melhor. Joguem por favor. Não é tornem-se compulsivas a jogar, é joguem por favor. Depois os pais que tenham enfim a decência de exercer a sua autoridade para dizer já chega."

Finalmente um ponto a meu favor, penso. Mas o homem contra-ataca:

"Brincar é obrigatório, todos os dias. Elevando a provocação ao limite: aquela fórmula que faz regra em muitas famílias do género ´Primeiro os trabalhos de casa e depois brincar´devia ser exactamente ao contrário."

"Ouviste esta mãe?"

"Ouvi meu querido. Já podes ir."

Ele não vai, claro. E ainda ouve:

"Primeiro brinca, brinca, brinca. Depois, meia hora para fazer os trabalhos de casa é o quanto baste para que tudo corra bem. E, se neste brincar todo estiverem jogos de computador, não vejo mal nenhum, muito pelo contrário."

O Tomás sorri, feliz, agradece-me a atenção de o ter chamado e sai a correr da cozinha.

"Paaaaai, vamos jogar Black Ops?" 

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

pegada ecológica



A conjugação dos seguintes sons: “clic” (interruptor da casa de banho)
“splash”,“oops…” é indicativa de que um objecto acabou de mergulhar na sanita. Segue-se um inevitável “mãããããããeeeeeeee!!!” ao qual eu faço por responder com um “chamaaaaa o paaaaai!!!” sempre que posso. 
Ontem, nesse momento, estava a virar uma omelete pelo que tive a oportunidade de me escapar ao processo difícil que se resume a: identificar o objecto caído; avaliar o valor deste; respirar fundo; contar até dez e controlar a raiva; decidir entre descarregar o autoclismo e esquecer o assunto ou (quando esta opção não é de todo viável) contar de novo até dez, calçar umas luvas e proceder ao resgate.
Desta vez não foi grave. Ainda ouvi um diálogo entre o Tiago e o André acerca da importância de uma tampa, tampa essa que deve estar agora a chegar ao oceano.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

as good as it gets




O Tiago é o miúdo mais "by-the-book" da família (o único, aliás, porque o Tomás é do tipo "book?-what-book?" e a Teresa  é mais "hell-with-the book").

Eu sou naturalmente desorganizada. O André, apesar de estar profundamente convencido do contrário, também o é, pelo que, um em três filhos ter escapado a essa carga genética  já foi uma sorte - é sempre útil haver alguém em casa que saiba exactamente o sítio onde estão as suas coisas (e muitas vezes as dos outros).

O Tiago é um fã incondicional de regras e procedimentos: qualquer alteração ou inconformidade só é aceite quando devidamente  justificada numa lógica que se adapte  à sua cabecinha de 5 anos e isso nem sempre me facilita a vida. Fica doido se não estaciono o carro na zona Amarela do Piso -2 do Arrábida quando o vou buscar à natação; odeia que faça um percurso diferente no regresso a casa; só pisa uma cor em pavimentos com padrão... 

Ultimamente desenvolveu (mais) uma mania que veio acrescentar uma dificuldade extra à nossas, já difíceis, idas ao supermercado:

"Querido, vamos, não precisamos desses iogurtes..."

"Estou só a pô-los direitinhos  mãe..."

"Estão bem, deixa lá isso... Tommy, não subas para essa barra... Té, não fujas!"

"Não estão nada bem, uns estão para trás e outros para a frente. Vou só puxar estes mais um bocadinho..."

 "Ti... estamos atrasados... ainda temos de ir aos leites (só espero que estejam em ordem...)"

"Espera mãe!  Preciso de ir ali às manteigas. Estão 'imenso' desorganizadas!"


Sr. Eng. Belmiro, pode fazer o favor de nos agradecer. Além de sermos fiéis clientes, agora também lhe arrumamos a casa.


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Tangled





De tempos a tempos surge lá por casa uma obsessão desmesurada com um filme elevando-o ao que eu considero o quinto e último nível na “escala de visionamentos domésticos”. Passo a explicar os meus critérios para definição da dita:


nível 1 filme novo.


Vejo-o, sem dificuldade de maior, eventualmente até com prazer.


nível 2 primeira meia dúzia de visualizações.


Ok, o filme pode ser muito giro mas não há necessidade de o ver repetidas vezes. Se estiver perante um musical (o que acontece frequentemente) os momentos de cantoria já custam um bocadinho.


nível 3 visualização diária por período superior a uma semana.


Já não gosto de nada. Personagens, argumento, música, tudo me irrita.


nível 4 mais de 2 visualizações diárias por período superior a 2 semanas.


Desespero, revolta, indignação: “TIREM-ME DESTE FILME!!!”


nível 5 quantidade indeterminada de visualizações diárias por período superior a 3 semanas.


Imunidade adquirida. O filme deixa de me incomodar e passa, pura e simplesmente, a fazer parte da rotina. As músicas são agora a banda sonora do meu quotidiano. As personagens são parte da família.


O nível 5 do momento é o “Tangled”. Outros houve, antes deste… assim de repente lembro-me de alguns: “Spider Man”, “The Incredibles”, “Cars”, “Monsters Inc”, “Mamma Mia” (esse não foi fácil… acordar a cantar o “voulez-vous” e adormecer a cantar o “take a chance on me” é algo que não recomendo a ninguém…). A todos sobrevivi com mais ou menos sequelas. Certo é que passados alguns anos acabo por rever, com alguma (inexplicável) ternura, esses filmes que tanto me atormentaram.



nota de rodapé:

“Querida Teresinha, o teu irmão Tomás, que tem, como sabes, alergia a tudo que seja dirigido a um universo feminino sabe as canções do Tangled de cor… o teu irmão Tiago veio, ontem, no carro, a relatar, palavra, por palavra, vírgula por vírgula, nota por nota, os primeiros vinte minutos do filme… adoro-te milhões, mas vejo-me obrigada a dizer-te que me parece ter chegado a altura de saltares para outra.”


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

morning rainbow





Arrancamos, como sempre, em cima da hora. O dia está tristonho e uns pingos de chuva salpicam o pára-brisas. Os rapazes cantam em uníssono algo que envolve as palavras cubismo e subir aos céus…  

“Meninos, o que é isso?!?”
“Spongebob.”

Suspiro de alívio e subo o volume do rádio na esperança de acabar com a cantilena demente.

À passagem sobre o rio uma lista de cores rasga o céu cinzento:

“O arco-íris! Já viste, Teresinha?”

Espreito a Té pelo retrovisor. Está de sobrolho carregado com uma expressão que parece dizer “não-é-um-simples-arco-íris-no-céu-que-me-tira-o-sono-e-o-mau-humor-matinal”…

Seguimos o arco-íris até ao colégio e ainda tiramos uma fotografia no momento em que está prestes a desvanecer-se com a chegada de um aguaceiro. A Té pede para ver a fotografia e sorri.

É uma mera ilusão de óptica provocada por um fenómeno meteorológico, eu sei, mas o que é certo é que melhorou o meu dia.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Dr. Ti




"Mãe,quando for grande vou ser Pai ou vou ser Doutor?"

"Podes ser as duas coisas, Tiago."

"Acho que prefiro ser só Doutor."

"Têm brincado muito no cantinho do médico?"

"Sim, até temos um otoscópio de verdade!"

Sorrio, complacente, e explico: "Não é otoscópio, meu querido, é estetoscópio."

Sorri de volta para mim, com aquele ar paternalista-naif que só ele sabe fazer, e elucida-me: "O-tos-co-pi-o, mãe, para-ver-os-ou-vi-dos. O estetoscópio é diferente: coloca-se nos ouvidos sim, mas nos dois, é mais longo e tem um círculo que serve para ouvir o coração. Não te preocupes, o pai também não sabia."




ripping the sky




O "anda comigo ver os aviões" passa no rádio do carro...

Tomás: Esta música não faz sentido, mãe...

Eu: Achas? Sabes que a música nem sempre tem de fazer sentido...

O André não diz nada mas sei que pensa para com os seu botões:  «odeio os Azeitonas...»

Tiago: Tens razão, Tomás, não faz sentido nenhum!

Eu: Então diz lá porquê...

Tiago: Toda a gente sabe que é di-fi-cí-li-mo rasgar o mar e im-po-ssí-vel rasgar o céu e as nuvens, se nem sequer chegamos lá.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

one in a million day





De há vários anos para cá a nossa vida social resume-se a praticamente zero. Os dedos de uma mão chegam para contar o número de vezes que saímos à noite ao longo do ano. As idas ao cinema também desapareceram (não contam as sessões do início de tarde dos filmes da Pixar dobrados em português).

Não que haja falta de predisposição da nossa parte, não que os avós não se ofereçam para ficar com as crianças... mas a verdade é que duas em cada três vezes que ponderamos a possibilidade de encaixar na nossa agenda doméstica um "programa a dois" há algo que arruína o esquema: uma otite, uma amigdalite, uma gastroenterite, um osso partido, uma varicela...

Este sábado conseguimos o impensável: não um, mas DOIS programas - ir ao cinema  (meninos-nos-avós-maternos) e sair à noite (meninos-nos-avós-paternos) em menos de 24 horas!

Podia fazer as contas à probabilidade desta situação se repetir nos próximos tempos (pelo menos até os miúdos estarem na faculdade) mas o meu cérebro ainda está parado pelo que prefiro atirar ao calhas: nenhuma.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

"Quando é que vem o próximo?"





Desde que sou mãe de três, a pergunta “Quando é que vem o próximo?” é-me dirigida com o triplo da frequência (e mais: num tom assustadoramente retórico) o que me leva a pensar que isto de ter filhos provoca nos outros uma expectativa em pirâmide invertida: quantos mais há, mais se esperam.

Já são três. Por que raio há-de haver um “próximo” quando a média por estas bandas é de um filho por casal? (ok, é 1,2 mas isto de contar crianças em décimas faz-me alguma confusão)

Sinto que há uma tendência generalizada para se dividir os jovens pais em dois grandes grupos: os ditos “normais” para os quais se estabelece o clássico objectivo do “casalinho” e os que decidem avançar para um terceiro denotando desde logo alguma insanidade mental e uma predisposição para continuar alegremente até ao décimo.

Errado. A chegada do primeiro filho é uma hecatombe – a vida como a conhecíamos deixa de existir e mergulhamos num universo para o qual nunca imaginámos estar preparados. Sobrevivemos claro, e, na maioria dos casos, felizes e contentes, pois a entrada de uma criança na nossa realidade compensa em larga escala tudo aquilo de que temos de abdicar por ela. O salto do primeiro para o segundo filho é grande. O salto para o terceiro é gigante - pura e simplesmente passamos de uma posição em que estamos em igualdade numérica para uma posição de dois para três – a logística torna-se, subitamente, muito mais complexa. Mas vá lá... ainda cabemos todos num carro, num elevador, ainda sobra algum espaço à mesa para alguém que tenha coragem (e paciência) para vir jantar connosco. Pessoalmente, a ideia da chegada de mais um filho provoca-me falta de ar. Acredito que em muitos casos isso só aconteça ao quarto, ao quinto ou ao sexto. Mas pode acontecer logo com o primeiro.

De um modo mais simples

Imaginando y = f(x) em que:

x - variável discreta independente que representa o número de filhos
y - variável discreta que representa o número de filhos ”extra” pretendidos

Desengane-se quem pensa que, para x > 2,  f(x) existe, é contínua e crescente.

“Quando é que vem o próximo? Vai perguntar essa a outro.”