quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

obrigada, Sr. Eduardo...





A minha falta de interesse por jogos de consola prende-se principalmente com o facto de qualquer chimpanzé bem treinado fazer melhor figura do que eu com um comando na mão. Se tivesse jeito (e tempo) não tenho dúvidas que seria uma aficionada. Entendo o fascínio dos miúdos perante este universo e não sou fundamentalista em relação a isso. Resmungo quando acho que estão a jogar há tempo a mais? Claro. Eles ouvem-me? Às vezes.

Se pudesse banir alguns jogos de lá de casa, os escolhidos seriam os de guerra. Faz-me confusão ver um miúdo de 10 anos a jogar Call of Duty pela mesma razão pela qual não o levo a ver um filme do Tarantino. Mas os jogos lá estão e os dois meninos mais crescidos (André e Tomás, entenda-se) não prescindem deles. A única regra que consegui estabelecer foi que os banhos de sangue são proibidos na presença do Tiago e da Teresinha.

Há dias ouvi anunciar no ´Falar Global' uma entrevista com o Eduardo Sá acerca da influencia dos jogos violentos nas crianças e jovens. Não tenho especial simpatia pelo Eduardo Sá... aquele sorriso seráfico e aquela postura de quem consegue manter a calma no-matter-what (mais ou menos na onda do pai do Ruca) enervam-me um bocadinho. Tenho, no entanto, que admitir que o senhor diz umas coisas acertadas pelo que achei que seria uma óptima oportunidade para mostrar ao Tomás os malefícios daquele tipo de jogos: 

“Tommy!! Vem cá ouvir isto!!!"

O Tomás entra na cozinha, a passo arrastado, encosta-se ao balcão e fita a televisão sem uma réstia de entusiasmo.

 "...os jogos não levam necessariamente  a comportamentos violentos... gostava que as pessoas percebessem que a agressividade é um equipamento de base da natureza humana e portanto faz bem à saúde..."

Noto um leve sorriso do tipo não-era-bem-isto-que-estavas-a-espera-que-ele-dissesse...

"...temos de aprender a ser agressivos com maneiras e quanto menos nós brincamos com a agressividade mais violentos nos tornamos... os jogos são uma forma lúdica de ao brincarem com a violência a esvaziarem da sua componente mais destrutiva...sem agressividade ninguém cresce."

O meu filho está agora interessadíssimo e não desgruda os olhos da televisão.

"... ao jogar eles estão a esticar o cérebro. Se pudesse tornava os jogos um bocadinho obrigatórios..."

"Como se chama este senhor mãe?"

"Eduardo Sá..."

"Gosto dele."

O Eduardo Sá, continua, numa espiral pró-jogo que deita por terra qualquer argumento que eu tente encontrar:

"Quanto mais jogos melhor. Joguem por favor. Não é tornem-se compulsivas a jogar, é joguem por favor. Depois os pais que tenham enfim a decência de exercer a sua autoridade para dizer já chega."

Finalmente um ponto a meu favor, penso. Mas o homem contra-ataca:

"Brincar é obrigatório, todos os dias. Elevando a provocação ao limite: aquela fórmula que faz regra em muitas famílias do género ´Primeiro os trabalhos de casa e depois brincar´devia ser exactamente ao contrário."

"Ouviste esta mãe?"

"Ouvi meu querido. Já podes ir."

Ele não vai, claro. E ainda ouve:

"Primeiro brinca, brinca, brinca. Depois, meia hora para fazer os trabalhos de casa é o quanto baste para que tudo corra bem. E, se neste brincar todo estiverem jogos de computador, não vejo mal nenhum, muito pelo contrário."

O Tomás sorri, feliz, agradece-me a atenção de o ter chamado e sai a correr da cozinha.

"Paaaaai, vamos jogar Black Ops?" 

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