terça-feira, 21 de maio de 2013

Senhor de Matosinhos




Senhor de Matosinhos. A coisa começa mal, com a Teresa a acertar com a testa numa barra de ferro. “Abriu? Não abriu? Quase que abria… um bocadinho de gelo fazia-lhe bem… não há gelo. Água fresca. Não queres? Pronto, não chores pequenina, já passou… grande galo…”

Teresa  1, Barraca das Fogaças 0, podemos avançar.

“Mãe onde estão os carrinhos de choque?”

“Ali à frente Tommy, já lá vamos.”

Paragem no primeiro carrossel.

“Qué o pink! Qué o pink! Qué o pink!”

Agarro a Té impedindo-a de saltar para o carrossel em movimento e acrescentar uma mazela maior à enorme amassadela que já tem na cabecinha.

O Tiago escolhe um Ferrari mas exige a companhia do irmão. O Tomás lá se encaixa no banco traseiro do carrinho minúsculo na esperança de passar despercebido numa diversão um tudo ou nada inadequada ao seu estatuto de pré-teenager. Olha-me com um ar de súplica:

“Mas eu quero ir aos carrinhos de choque…”

“Tem calma. Lá chegaremos.”

Segue-se o segundo, o terceiro, o quarto carrossel.

“Carrinhos de choque… onde estão?... Estou a vê-los! Finalmente!”

1ª volta – o Tomás avança num carro com a Té. O Tiago amua e poupa-nos uma ficha.

2ª volta – o Tomás continua, desta vez com o irmão ao lado. A Té fica ao meu colo, zangada.

3ª volta – idem.

4ª volta – o Tiago já quer ir sozinho. A Té volta a co-pilotar o Tommy.

5ª volta – vá-se lá saber porquê, o Tommy quer despachar a irmã. Levo a Té a dar uma volta comigo no comboio da Branca de Neve onde se lê na bilheteira: 'Adultos podem acompanhar crianças. Todos pagam'. É justo, embora a diversão não valha os 3 euros.

6ª volta – a Té salta para dentro de um carrinho e aventura-se sozinha. Instala-se o CAOS na pista durante 5 longos minutos em que me sinto corar de vergonha por ser a mãe daquela coisinha louca.

Pedimos desculpa ao senhor dos carrinhos de choque pelo transtorno causado e fugimos rapidamente para outras paragens.

Barracas da sorte. O Tomás olha fascinado para os prémios ao alcance de uma pontaria certeira.

“Posso experimentar? Só vi isto nos filmes…”

Perante este argumento não houve como não deixar.

“Ok, tenta lá, mas é deitar dinheiro ao lixo, nunca se acerta.”

O homem da barraca estende-lhe a pressão de ar e explica o objectivo:

“Taje a ber ali oge albos? Dez. Doze balas.”

“Bonito”, penso para comigo. “Se acertar um já não é mau.”

Não acertou nenhum. Mas a primeira foi só para aquecer. Implorou por mais uma tentativa em que a pontaria começou a ficar afinada.

“Só mais uma vez. Eu sei que sou capaz.”

“Só mais uma. Estamos todos à espera. Já é hora de jantar.”

Agarra a arma, concentradíssimo, e acerta em cheio o primeiro alvo. Um grupo grande que vai a passar pára e fica a observar. Agora estamos todos expectantes com aquele nervoso miudinho de quando se está a ganhar 1-0. O Tommy não hesita e abate, uma a uma, as dez garrafinhas de cartão. O bando atrás de nós desata a bater palmas. Que festa!

Aproveitámos o momento de glória para deixar o recinto. Se tivesse passado pelos carrinhos de choque ainda tinha ido ter com o senhor para lhe mostrar o prémio e dizer: “Está a ver? A 'mai nóba' é uma vergonha mas o mais velho é um orgulho!”



nota de rodapé:
Três grilos, um para cada um. O Tiago opta por uma gaiola com as belíssimas cores da bandeira nacional. Leva-a na mão durante algum tempo até que pede ao avô: 
"Podes guardar-me o mosquito?"

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