quinta-feira, 13 de junho de 2013

sometimes



Hora de ir para a cama. A televisão ainda está em modo infantil. Ruca, para não variar. Bem, antes o Ruca que uma gordalhufa oxigenada a dizer obscenidades acompanhada do Kapinha e do Tino de Rans. Antes o Ruca que o Dancing Days. Antes o Ruca que as marchas de Santo António. Antes o Ruca que o Bagão Félix a teorizar sobre a nossa triste realidade. Antes o Ruca que o MasterChef ou uma qualquer série de investigação criminal. No fundo, no fundo, o Ruca não é assim tão mau. O Ruca fala da irmã mais nova:

“Esta é a minha maninha Rosita e eu gosto muito dela!”

“Estás a ver Ti? O Ruca gosta muita da mana. Tu também gostas muito da tua, não gostas?”

“Só às vezes, mãe. A Rosita porta-se sempre bem. A Teresa não.”

“Não digas isso…”

Neste preciso momento aparece a Té, equipada para dormir. Por equipada entenda-se, além do pijama e da chupeta, carregada com tudo aquilo que pretende levar para o colégio no dia seguinte. Lista do dia: um swatch ‘pink’, um nokia avariado ‘pink’, um livro de colorir, uma prancha de bodyboard da Pequena Sereia, um guarda-chuva do Panda (aberto…) e uma cesta com uma meia dúzia de itens que, à partida, não consigo identificar.

O Ti aponta para a Rosita no ecrã e depois para a irmã. Encolhe os ombros e abre os braços num gesto de evidência.

A Té franze o sobrolho o olha-o de soslaio. Uma mão na prancha e outra no guarda-chuva impedem a costumeira 'mão na anca'. Afago-lhe a franja a precisar de ser aparada:

“O Tiago gosta de ti, Té. Sempre, mesmo que por vezes diga o contrário. Vamos lá arranjar um modo de encaixar esta tralha toda na tua cama.”

Afastamo-nos. O Ti mantém-se vidrado na televisão. Enquanto tento convencer a Té a fechar o guarda-chuva, ouço-o murmurar entredentes:


“Gosto às vezes. às vezes…”


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