O Tommy é um irmão mais velho como há poucos. Não que nunca perca
a paciência mas, antes de fazer uso da força, esforça-se por resolver
pacificamente os conflitos com e entre os irmãos. E poucos são os que conseguem
manter uma postura pacífica perante dois seres que não aguentam estar juntos
mais de dez minutos sem se engalfinhar. A saber:
Espírito de Partilha:
Querem sempre o MESMO brinquedo, o MESMO lugar no sofá, o MESMO
lugar à mesa, o MESMO copo, a MESMA bolacha, o MESMO marshmallow (mesmo que haja
trinta iguais).
Companheirismo:
NUNCA querem o mesmo programa de televisão, NUNCA querem o mesmo
jogo de consola, nunca querem a mesma coisa quando se trata de algo que pode ser feito a dois.
Bom perder:
Ambos querem ser o PRIMEIRO a entrar na banheira, o PRIMEIRO a chamar o
elevador, o PRIMEIRO a marcar o código da garagem, o PRIMEIRO a chegar ao
carro. Nesta de chegar ao carro o Ti tem apresentado alguma melhoria mas não
resiste a dar cinco passos de corrida no mesmo sítio assim que a porta do
elevador se abre, gesto que despoleta na Té um arranque supersónico acompanhado
de gritos lancinantes: “QUÉÉÉÉ GANHÁÁÁÁÁ!!!”
A tudo isto o Tommy reage com alguma calma, tendo vindo a adquirir
uma capacidade invejável de ignorar o circo mesmo quando ele está a pegar fogo
atrás de si.
Nos casos em que a briga lhe cai, literalmente, em cima, usa várias técnicas
de apaziguamento: chamá-los à razão (raramente resulta), distrair a atenção
para outra coisa (resultado pouco garantido e nada duradouro), fazer uma palhaçada (quase
infalível), e, mais recentemente (sem que eu tivesse força de vontade suficiente
para o impedir), suborno:
“Dou-vos uma moeda a cada um se me deixarem em paz!”
Foi vê-los a correr quarto fora. Pararam à porta, de mão
estendida, enquanto o mano abria o mealheiro.
“Ora, vamos lá, um euro para o Ti, um euro para a Té…”
A Té não ficou satisfeita. Manteve a mãozita aberta e decretou:
“Pa mim é nota!”
Seis euros por alguns minutos de descanso. Acho que vou ter de lhe
aumentar a mesada.
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