quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

"Quem tem medo da mamã má?"




A Té descobriu há tempos que gosta de canja de galinha e está convencida de que encontrou a solução ideal e definitiva para deixar de comer sopa. Cada vez que lhe apresento um prato de sopa agarra a colher na vertical, bate com o cabo na mesa e reclama: "Não góto de sopa. Não qué sopa! Qué canja!".

Já lhe tentei explicar, sem grande sucesso, que a canja não faz a vez da sopa, mas, sejamos justos: não é fácil para uma menina de três anos perceber como é que algo que se come quando não há sopa, num prato de sopa e com uma colher de sopa, não faz per-fei-ta-men-te a vez da sopa.

Anteontem prometi que ontem haveria canja em vez de sopa ao jantar. Falhei a promessa. Antes que batesse com a colher na mesa, avisei:

“Amanhã comes canja. Vou chegar tarde mas peço à Maria João para fazer, ok?”

“De ceteza?”

“Sim, não me esqueço. Vou deixar-lhe um bilhete na cozinha.”

“Eu axudo a fazê o biête.”

“Eu também!” – diz o Ti, aproveitando para se escapar da mesa (e da sopa) em busca de papel e lápis.

Sentamo-nos no chão.

“Ti, dá-me o papel para eu escrever.”

“Não, mãe. A Teresa dita e eu escrevo. Tu ficas a ver se eu estou a escrever bem.”

Uma infinidade de tempo e vários rascunhos depois, terminámos o simpático pedido que colocámos, bem à vista, em cima da fruteira.

Hoje, à chegada do colégio, a Té corre ao encontro da Maria João e aponta para o papel:

“Miajoão, vite o nosso biête?”

A Maria João finge não ter reparado no bilhete. Ergue-o ao nível do seu metro e oitenta de altura, lê-o e exclama dramaticamente:

“Oh, minha nossa!... Queriam que fizesse canja? Não fiz. E agora?”

A Té, esmagada pela desilusão, apresenta o desfecho se lhe afigura óbvio:

“Agora a mamã vai dáte uma pámada. E eu vou comê sopa.”

Sem comentários:

Enviar um comentário