segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

the uncomfortable truth



Enerva-me a conversa do “gostas mais do papá ou da mamã?” por variadíssimas razões uma das quais é a minha plena consciência de que a resposta dos meus filhos a esta pergunta obtusa será sempre: “do papá”.

Aprendi a viver como a 'chata de serviço' mas confesso que viveria bem melhor se me fizessem o favor de não verbalizar em demasia esse facto.

Dez e meia da noite de domingo à noite. O FCP foi fazer uma figurinha triste à Luz e escorregou para o terceiro lugar. O pai foi a Lisboa ver a figurinha triste do FCP a modos que vai chegar tarde e com um tremendo mau feitio. Tenho três metros de árvore de Natal para desfazer e milhares de enfeites para organizar e encaixotar. Como se não bastasse para a minha má disposição, os mais novos insistem em não adormecer. Ouço-os discutir:

“Não sou quato, sou pimeio!”

“Desculpa Teresa, mas estás em quarto.”

“Eu qué sê pimeio!”

Dirijo-me ao quarto e tento impor alguma ordem:

“Que se passa meninos? Já viram as horas? O Tommy já adormeceu!”

O Ti encolhe os ombros e justifica-se:

“Eu também dormia, se a Teresa deixasse…”

A Té agarra-lhe a manga do pijama, arregala os olhos e grita:

“QUÉ SÊ PI-MEI-O!”

Antes que se engalfinhem, pego na Té ao colo e pergunto-lhe:

“Queres ser primeiro em quê, Tété?”

O Tiago enterra a cabeça na almofada, suspira e esclarece:

“A Teresa está zangada porque está em quarto. Para mim a Teresa está em quarto, tu em terceiro, o pai em segundo e o Tomás em primeiro.”

Do alto do meu terceiro lugar no pódio, respiro fundo e procuro um modo simples de explicar à Teresinha que estes rankings afectivos não são, de todo, estáticos e que depende essencialmente dela subir uns degrauzitos no coração do mano. Termino com um:

"Se fores muito, muito boazinha para o Ti vais ver que ficas em primeiro. Agora durmam, por favor, de uma vez por todas."

Dou um beijinho a cada um e desligo a luz. A voz do Ti rasga o silêncio:

“Se for boazinha passa para terceiro, mãe. Mais que isso, não. Tu e a Teresa vão sempre ficar atrás do pai e do Tomás. Sabes porquê?”

“Acho que não quero saber, filho…”

Eu não quero mas, como não podia deixar de ser, ele faz obséquio de me elucidar:

“Porque vocês, mulheres, são muito mais irritantes. Só por isso.”

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