segunda-feira, 26 de maio de 2014

Somos livro!



"Era uma vez uma mãe que gostava muito dos seus filhinhos e que resolveu criar um blogue onde pudesse contar as suas aventuras e desventuras. Era uma vez uma data de gente que achou graça às histórias da mãe que gostava muito dos seus filhinhos e que começou a fazer “like” cada vez que a mãe contava uma história nova. Era uma vez uma editora que achou que as histórias da mãe podiam ser compiladas num livro. O livro ficou pronto e a mãe não coube em si de contente por ter a oportunidade de deixar aos seus filhinhos as suas histórias encadernadas."

Há dois finais possíveis para esta história:

Final 1:
"Todos os que achavam graça às histórias da mãe puderam comprar o livro e ficar com as histórias encadernadas para as relerem sempre que quisessem."

Final 2:
"Todos os que achavam graça às histórias da mãe compraram o livro e falaram do livro a todos que pudessem vir a achar graça às histórias da mãe que gostava muito de escrever sobre os seus filhinhos. Ao contrário das expectativas, venderam-se tantos exemplares que esgotou a primeira edição!"
  
Como vêem, o final da história está na vossa mão. Eu já estou muito feliz por ter chegado até aqui, contudo, ficar-vos-ei eternamente grata se me ajudarem a tornar o livro um sucesso.

Chega às lojas em Junho. Já está disponível para encomenda aqui.


domingo, 25 de maio de 2014

Há cromossomas y a mais nesta casa... parte II



O Tiago observa atentamente os meus sapatos. São de cunha, de uma cor discreta. Estão longe de se enquadrar no  tipo que facilmente lhes desperta aquele implacável gene reacionário que herdaram do pai.   

"Algum problema com os meus sapatos, Ti?"

"Não. São giros."

Respiro de alívio. Não estou com disposição para grandes argumentações. Ele parece perceber isso e sorri. Acrescenta:

"E devem ser bem mais confortáveis do que os que têm aquele pauzinho fininho atrás."

"Salto alto. O pauzinho fininho chama-se salto alto. Tens razão, estes não magoam nada."

"Devem é ser mais caros..."

"Não necessariamente."

Olha-me incrédulo.

"Os de salto alto não são baratos? Não pode ser! "

"Ti, o preço dos sapatos depende da qualidade e, por vezes, da marca deles. Não tem a ver com o formato nem com a altura."

Suspira e abana a cabeça.

"Não vos entendo."

"E porque é que o senhor não "nos" entende, posso saber?"

"Não entendo porque é que usam sapatos que vos fazem doer os pés se nem são, ao menos, mais baratos do que os outros!"

segunda-feira, 12 de maio de 2014

The Homework Police



A expressão “trabalhos de casa, só com uma arma apontada” ganhou ontem, por estas bandas, toda um nova dimensão. A saber:

“Meninos, são quase horas de dormir. Terminaram os tpc? Têm tudo pronto para amanhã?”

O Tommy acena afirmativamente. O Tiago, agarrado ao comando da Wii, faz de conta que não me ouviu.

“Ti, fizeste os trabalhos de casa todos?”

“Oh mãe… agora que eu ia começar um jogo…”

Se num dia normal uma resposta destas já me enerva, num domingo à noite (momento da semana em que os meus níveis de serotonina estão muito para lá dos mínimos recomendados) provoca-me uma reacção histérica. Nada como me verem a estrebuchar para se esgueirarem rapidamente para os quartos quais ratinhos assustados. A Té costuma regressar passados uns vinte segundos não só porque ainda não tem trabalhos de casa para fazer nem sacos para preparar mas também porque é, de longe, a que me tem menos respeito. Desta vez não regressa. Decido ir espreitá-los. O Tommy está a preparar o que supostamente já estava preparado. O Ti está sentado à secretária, com cara de vítima, a fazer um crucigrama. A Té está em cima da cama do Ti, de G3 em punho, apontada ao irmão.

“Que é que se passa aqui?”

Sem levantar os olhos do livro, o Ti esclarece-me:

“É a minha irmã que é parva.”

A Té aproxima um pouco mais a arma.

“Não sô pava. Sô a polícia dos tabaios. Se não fizeres o tabaio dou-te um tiro.”

“Teresinha, obrigada pela ajuda, mas isso não se faz.”

Encosta a G3 ao ombro. Tem o cabelo desgrenhado e a cara suja. Não parece uma polícia, parece uma guerrilheira colombiana. Sorri e pisca-me o olho:

“Tou a bincá, mamã. Não posso dispará… ito nem tem balas!”


quarta-feira, 7 de maio de 2014

To mum, with love



Presentes do dia da mãe. O Tommy oferece-me um cartão com um lindo poema. Não vá eu convencer-me de que o meu filho mais velho está a ficar lamechas, recita o poema em ritmo hip-hop. O Ti fez um elaborado trabalho de pintura e colagem com motivos florais para eu colocar na parede. A Té memorizou duas quadras dedicadas à mãe e diz-mas em surdina, ao mesmo tempo que me estende, com orgulho, uma moldura decorada com flores de papel colorido.

“Adorei as vossas surpresas, meus queridos. Obrigada.”

Sorriem, satisfeitos.

“Ainda bem que gostaste. O meu, pelo menos, deu muito trabalho”, diz o Ti enquanto observa com um ar sobranceiro a moldura da Té. Um olhar ameaçador do irmão impede-o de abrir a boca para tecer algum comentário menos simpático.

Inibido de criticar a menina só-porque-é-pequenina aponta as baterias para cima:

“O Tomás podia ter usado várias cores para escrever o poema dele. Tinha ficado muito mais giro.”

“Só tive quarenta minutos…”

“Se tivesses alinhado os lápis todos à tua frente, ias pegando num de cada vez, e escrevias uma palavra de cada cor. Era rápido.”

“Não se iam ler tão bem as palavras…”

“Talvez, se usasses o amarelo clarinho. Esse já se sabe que só serve para pintar o sol.”

“Preferi assim.”

“Preferiste mal.”

Peço-lhes que não comecem a discutir. Digo-lhes que gosto dos seus trabalhos independentemente da quantidade de cores ou enfeites que cada um teve oportunidade de utilizar. Explico-lhes que o importante é o carinho e o esforço que lhes dedicaram. Já devia ter aprendido que há momentos em que o melhor é estar caladinha:

“O meu foi o mais chato de fazer porque tive de fazer pintinhas nas pétalas, pintar os ramos, colar as folhinhas, colar as pedrinhas…”

“Ouve cá, achas que fazer um poema é fácil?”

“Não. Fazer um poema é chato. Mas as minhas flores foram muito mais chatas de fazer. Tive de fazer pintinhas nas pétalas, pintar os ramos, colar…”

“A MIA MÓDURA TAMÉM FOI CHATA!”

“A tua moldura é simples.”

“É CHATA!”

“AS MINHAS FLORES SÃO AS MAIS CHATAS!”

Deixei-os a disputar o grau de chatice das suas obras enquanto as fui guardar no meu quarto. Três pedacinhos de amor dos meus meninos que vão ficar comigo para sempre. Valeu o esforço, miúdos. Sou uma mãe cheia de sorte.