segunda-feira, 12 de maio de 2014

The Homework Police



A expressão “trabalhos de casa, só com uma arma apontada” ganhou ontem, por estas bandas, toda um nova dimensão. A saber:

“Meninos, são quase horas de dormir. Terminaram os tpc? Têm tudo pronto para amanhã?”

O Tommy acena afirmativamente. O Tiago, agarrado ao comando da Wii, faz de conta que não me ouviu.

“Ti, fizeste os trabalhos de casa todos?”

“Oh mãe… agora que eu ia começar um jogo…”

Se num dia normal uma resposta destas já me enerva, num domingo à noite (momento da semana em que os meus níveis de serotonina estão muito para lá dos mínimos recomendados) provoca-me uma reacção histérica. Nada como me verem a estrebuchar para se esgueirarem rapidamente para os quartos quais ratinhos assustados. A Té costuma regressar passados uns vinte segundos não só porque ainda não tem trabalhos de casa para fazer nem sacos para preparar mas também porque é, de longe, a que me tem menos respeito. Desta vez não regressa. Decido ir espreitá-los. O Tommy está a preparar o que supostamente já estava preparado. O Ti está sentado à secretária, com cara de vítima, a fazer um crucigrama. A Té está em cima da cama do Ti, de G3 em punho, apontada ao irmão.

“Que é que se passa aqui?”

Sem levantar os olhos do livro, o Ti esclarece-me:

“É a minha irmã que é parva.”

A Té aproxima um pouco mais a arma.

“Não sô pava. Sô a polícia dos tabaios. Se não fizeres o tabaio dou-te um tiro.”

“Teresinha, obrigada pela ajuda, mas isso não se faz.”

Encosta a G3 ao ombro. Tem o cabelo desgrenhado e a cara suja. Não parece uma polícia, parece uma guerrilheira colombiana. Sorri e pisca-me o olho:

“Tou a bincá, mamã. Não posso dispará… ito nem tem balas!”


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