quinta-feira, 10 de julho de 2014

Um iogurte é um iogurte


Os anúncios de iogurtes magros enervam-me. De toda a publicidade que nos entra olhos e alma dentro diariamente a de iogurtes magros é, de longe, a que mais me irrita. Mais do que a da Cofidis e a da Olx. Mais do que a das seguradoras. Mais do que a de detergentes da louça e da roupa. Mais do que a do Jumbo, do Continente e do Pingo Doce juntas. Mais do que qualquer outra. Passo a explicar porquê:

Eu sou daquelas que devia comer tudo quanto é alimento com teor reduzido de gordura. Sou daquelas que não devia tocar em doces. Sou daquelas que não devia comer arroz. Sou daquelas que devia comer apenas uma peça de fruta ou um iogurte entre as refeições. Todas as manhãs olho de esguelha a pilha de jeans que não servem mas dos quais não me desfaço na esperança de ainda voltar a caber neles. É aquele momento do dia em que sinto que está na hora de fazer algum esforço para vestir uns números abaixo. São breves instantes de consciência da minha (falta de) forma. Digo breves pois assim que fecho o roupeiro não penso mais no assunto e como uma taça de Chocapic. Eu preencho os requisitos todos para ser o target de qualquer campanha de iogurtes magros. Sou das que têm de ser convencidas. E para me convencerem bastava que usassem única e simplesmente o argumento de que para sermos magras temos de parar de comer porcarias e começar a comer iogurtes. E que explicassem que um iogurte magro pode saber ao mesmo do que um normal. Mesmo sabor, metade das calorias. Perfeito. Mas não. As marcas apresentam os iogurtes magros como uma deliciosa tentação que está ali ao nosso alcance, permitindo-nos o éden sem nos aumentar uns centímetros às coxas. 

Vejamos alguns exemplos:

"...ao fim destes anos todos, e três filhos depois, a minha mulher  está cada vez mais bonita, menos quando lhe tiram o iogurte..."

Não brinquem comigo. Uma mãe de três filhos tem oportunidades de sobra para virar um bicho sem que metam iogurtes ao barulho. Mais, uma mãe de três filhos está preparada para ver comida a desaparecer sem que isso a incomode. Uma mãe de três filhos come as asas do frango e as côdeas do pão. A falta de um determinado iogurte no frigorífico não incomoda uma mãe de três filhos.

"Adoro miminhos. Um folhadinho de manhã, uns docinhos ao lanche. Mas agora chega! Vou trocar o meu snack por este zero por cento! Yum!"

Só num mundo irreal é que uma mulher diz uma frase destas com entusiasmo e um sorriso rasgado no rosto.

"...prometo não renunciar a nada e aproveitar!"

Boa. Não vamos renunciar a nada. Vamos partir para a loucura e comer iogurtes magros! Uhuuuuu!

"Zero. Puro prazer."

Puro prazer? Puro prazer é uma torrada com queijo e doce de morango. Puro prazer é uma fatia gigante de pão com nutela. Puro prazer é uma tosta carregada de manteiga de amendoim. Puro prazer é comer leite condensado à colher. Um iogurte magro, é na melhor das hipóteses, um perfeito substituto de um iogurte normal. Um perfeito substituto de algo que é tudo, menos puro prazer.

Eu sei que devo comer iogurtes. Magros, de preferência. Mas agradeço que deixem de fazer de mim parva e assumam de uma vez por todas que um iogurte é tão somente um iogurte. Não tem gordura? Óptimo. Se estiver com desconto em cartão, tanto melhor.

Sem comentários:

Enviar um comentário