sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Flower power



As plantas não têm vida fácil cá em casa. O nosso pequeno ecossistema doméstico apresenta gravíssimas falhas no que toca à flora. Eu esforço-me, juro que me esforço, mas a coisa corre sempre do mesmo modo:

Chegada de planta linda e resplandecente → diminuição gradual de flores e folhas → transformação dos caules em pequenas estacas secas → morte ou partida de planta moribunda para casa de uma das avós → regresso de planta recuperada → diminuição gradual de flores e folhas → transformação dos caules em pequenas estacas secas → morte ou nova partida para reabilitação.

Há quem diga que é água a mais, há quem diga que é água a menos. Há quem diga que é a luz. Eu não sei que diga. Há muito que já desisti de comprar plantas de interior e me rendi às SMYCKAs e FEJKAs que custam até 4,99€ e duram uma vida inteira.

Sedenta de flores naturais mas consciente das minhas limitações decidi dedicar-me exclusivamente a plantas de exterior (por si só mais resistentes a todo o tipo de mau trato ou negligência). Palavras da senhora do horto “Num tem que saber menina, água quanto baste, luz quanto baste, dá-lhe flor duas bezes ó ano”. Contra as minhas expectativas lá o consegui. O difícil foi o ‘duas vezes ao ano’ por mais do que um ano. O verão mostrou-se sempre implacável com as minhas azáleas obrigando-me, todos os anos, a regressar ao horto e a comprar novas plantas e novos sacos de terra para restituir a frescura e a cor às áridas floreiras da varanda. Até este ano. Era fim de tarde. Tinha chovido. O céu estava tingido em tons violeta e alaranjado. Eu estava debruçada na janela da cozinha a tirar a roupa molhada do estendal quando a vi. Linda. Carregada de cor. Um rasgo de alegria por entre as folhas tristonhas e as ervas daninhas.

“Meninos!!! Venham ver! As azáleas da varanda estão a florir!”

Vieram. Olharam as floreiras. Olharam-me de volta com condescendência. Percebo-os. Era só uma flor minúscula. Uma flor minúscula, aparentemente insignificante,  que eu sabia ser a primeira de muitas que viriam a desabrochar. Assim foi. Pela primeira vez, a minha varanda ganhou vida com a chegada do outono. O mérito não foi meu, eu sei. O mérito foi do verão que não existiu. O mérito foi dos dias cinzentos que nos fizeram ficar em casa quando queríamos ir à praia. Mas, o que lá vai lá vai e lá que as azáleas estão um encanto, lá isso estão. 


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