segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Não fui eu!



Nos dias que correm a minha prole só vê o Disney Channel. Longe vão os tempos de glória do Canal Panda em que eu ficava pelos cabelos com o Noddy, com o Ruca e com a Vila Moleza. Até o Nickelodeon, casa do lendário SpongeBob e dos enervantes iCarly e Drake and Josh, foi praticamente votado ao esquecimento.

Agora é, definitivamente, tempo de séries Disney. É tempo de Violetta, Jessie, O meu cão tem um blog e Austin & Ally. Tempo de meninas e meninos todos iguais, em cenários com mais cores do que um pack de 48 molins, a dizerem disparates que seriam difíceis de aguentar mesmo sem a agravante de nos chegarem dobrados em português. Honrosa excepção feita ao Phineas e Ferb, que surge como um verdadeiro bálsamo no meio da grelha de programação, tudo o resto que passa no Disney Channel é absolutamente in-su-por-tá-vel.

Perco a conta às vezes que peço para baixarem o volume, para mudarem de canal ou (quando já esgotei a paciência) para desligarem a televisão.

Sábado de manhã. Estou sentada no sofá. O Ti e a Té estão a tomar o pequeno-almoço na mesinha pequena da sala. A televisão está no 40, como não podia deixar de ser. Um rapazinho e uma rapariguinha que nunca vi antes estão a ponderar o cancelamento de uma festa uma vez que a senhora idosa (a babysitter?) que está sentada no sofá, agarrada a uma taça de pipocas, acabou de falecer.

“Meninos, isto é demasiado mau! Que série é esta?”
Entre duas colheres de Chocapic a Té murmura:
“Não fui eu.”
“Eu não quero saber quem é que pôs no Disney. Quero saber o que é isto que está a dar.”
"Não fui eu."
Viro-me para o Tiago:
“Que série é esta Ti?”
“Não fui eu!”
“Endoideceram? Já percebi que foi o Tommy. Mas o Tommy não está aqui agora e são vocês que estão a ver esta idiotice. Importam-se de me dizer o nome da série?”
Suspiram e dizem em coro:
“Não fui eu! é o nome da série, mãe…”

Agora é tempo de Violetta, Jessie, O meu cão tem um blog, Austin & Ally e Não fui eu. Aposto que ainda vai haver um “Não te irrites, mãe. Já estou a desligar”.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Happy New Year



Noite de Passagem de Ano. O pai teve de arrancar para a fábrica antes das dez pelo que jantámos bem mais cedo do que o habitual. Que havemos de fazer até à meia-noite? Uno Attack? Boa ideia, vamos a isso. O primo Manel é muito pequeno para jogar por isso fica com a função de carregar no botão do lançador de cartas. A coisa corre estranhamente bem. Tão bem que a Té insiste em repor sistematicamente o baralho no lançador tornando o jogo interminável. Ao fim de quarenta e cinco minutos eu peço ao Tommy para me substituir. O jogo acaba pelas onze. Parece que ganhei. Está visto que para ter sorte preciso mesmo de ter alguém a segurar nas cartas por mim. 

E agora, que fazemos? Esperamos. Já só falta uma hora. Uma hora passa num instante. 

“Mãe... quando é que vamos para casa?”

“Quando for meia-noite.”

“Só?!”

“Ti, já te disse que é noite de passagem de ano. Temos de esperar pela meia-noite. Brinca mais um bocado.”

“Já não sei a que brincar.”

“Joga qualquer coisa no meu iPad.”

“Não posso. O Tomás está com ele.”

“Tommy! Não instales mais jogos no meu iPad se fazes favor…”

“Não é um jogo, mãe. É uma coisa importante.”

“Que coisa importante?”

“Depois vês, ok?”

Dou meia volta e vou até à sala onde avós, bisavós, tios e primos conversam animadamente. 

Onze e meia. Talvez seja melhor começar a tratar das passas e das uvas (para os que,como eu, não comem passas). Conto três dúzias de uvas que coloco em três copinhos.

“Meninos, segurem aí nas vossas uvas.”

O Ti agarra o copo, espreita para o fundo e resmunga:

“Eu não vou comer isto.”

“Vais sim. “Isso” são uvas. Bem boas, por sinal."

“Porque é que eu tenho de comer uvas?”

“À meia-noite comemos doze uvas cada um. É tradição.”

“Tradição?”

“Sim, tradição. Para dar sorte para os próximos doze meses.”

“E se não comer todas como é que se sabe quais são os meses em que vou ter azar?”

“Não se sabe.”

“Não tem lógica nenhuma, isto das uvas.”

Afasta-se, resignado, com o copo das uvas na mão.

Onze e cinquenta. É melhor ligar a televisão, para estarmos atentos às doze badaladas. Na tvi, de preferência. Estas galas não são o que eram no tempo do saudoso BigBrother do Zé Maria mas passar o ano sem a (sempre enervante) Teresa Guilherme não é passar o ano.

Onze e cinquenta e cinco. Tudo em posição à volta da mesa. Taças de champanhe a postos. Talvez seja melhor não subirmos para estas cadeiras que são pouco estáveis. Antes que tenha tempo de partilhar esta minha preocupação já vejo metade da família a empoleirar-se nas cadeiras. 

O Tommy surge a correr ostentando orgulhosamente o iPad onde conseguiu ligar-se ao pai via Skype. Levanto alto o iPad para que o André possa, no recato do seu gabinete, ver as caras de todos os que lhe desejam uma boa passagem de ano.

É agora! Dez… nove…

O Tommy começa a gritar. A cadeira (pouco estável, eu bem digo) fechou-se no momento em que tentou subir e está com o tornozelo preso. Peço desculpa ao André e “pouso-o” na mesa. Quando consigo libertar o pé do meu filho já está tudo a brindar e a gritar “Bom Ano!!”. 

Volto ao André que passou os últimos segundos de 2014 a observar as decorações de Natal que a minha mãe tem suspensas no tecto da sala. "Bom ano, meu querido. Tommy, Té, Ti! Venham dizer bom ano ao pai!" 

Tomás, O Estouvado, saúda o pai com aquele sorriso delicioso que só ele sabe fazer. 

Teresa, A Romântica, fica agarrada ao iPad a fazer festinhas ao papá. 

Tiago, O Pragmático, ainda está em cima da cadeira. Comeu só metade das uvas. Ajudo-o a descer com a conveniência de nem mencionar o costume do pé direito.

“Bom ano Tiago! Brinda comigo com o teu copo de uvas.”

“Brindar também dá sorte?..”

“Brinda lá e cala-te. Dá um beijinho a todos e depois veste o casaco. Agora sim, está na hora de irmos para casa."

“Mãe, só uma coisa...”

“Sim…”

“Porque é que, só por ter mudado o ano, fica toda a gente tão entusiasmada?"

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Number, please?



“Estou, mãe…”

“Então filho, está tudo bem?”

“Tudo. Estou a ligar porque ainda não me mandaste o número.”

“Enviei-te de manhã o contacto por mensagem.”

“Não recebi nada.”

“Como não? Espreita lá.”

“Espera aí então…”

….

“Tommy…”


“Tommy…”

….

“TOMMY! ESTÁS Aí?”

“Sim mãe. Não tenho mensagem nenhuma. Podes dizer-me o número?”

“Espera que vou ver nos contactos. Não desligues.”


“Tommy…”

“Sim, mãe.”

“Tens um papel onde apontar?”

“Não… mas tenho o Tiago. TIAAAGO! DECORA AÍ O NÚMERO QUE VOU DIZER!”


Ultra Té



A sequência interminável de aniversários nesta quadra natalícia pôs a Té a pensar no seu e, mesmo estando a três meses de distância do grande dia:

Já sabe que quer um bolo com a equipa da Alemanha (é o que dá ter acordado para a bola num ano em que os germânicos limparam sem espinhas o mundial de futebol);

Já decidiu o local da festa;

Já está a fazer a lista dos convidados. Preocupação número um: "Mamã, posso convidar benfiquistas?"



domingo, 4 de janeiro de 2015

Birthday stars



Este ano o meu aniversário foi celebrado com um pequeno jantar em casa dos avós. A Té indignou-se por ter convidado pouca gente: "Mais gentes dava mais jeito, mamã... na minha festa quero todas as gentes!"

Não sei se por falta de 'gentes' ou pela constipação que teima em não passar, ficou com sono mais cedo do que os irmãos. 

"Vamos para casa, mamã... os manos vão depois, com o papá."
"Ok, fofinha. Veste o casaco, o gorro e as luvas. À noite está gelada e tu não podes apanhar frio."

Metemo-nos ao caminho, de mãos dadas. Olho-a de cima. O narizito arrebitado, o casaco comprido e o passo firme fazem-na parecer uma miniatura de pessoa crescida. Paramos no semáforo que está vermelho para os peões. Sorrio-lhe. Ela sorri de volta e levanta a mão em direcção ao céu.

"Estás a ver as estrelas a brilhar?"
"Estou. Estão muito bonitas."
"Sabes o que dizem, mamã?"
"Não, não sei."

Olha-me complacente. 
"Que dia estamos hoje?"
"Dia 30."
"Quem faz anos hoje?"
"Eu."
"Então que achas que dizem as estrelas?"

O semáforo já está verde mas nós mantemo-nos imóveis, de mãos dadas e olhos no céu.
"Não sei Teresinha. Diz-me tu."

Ergue a sua luva no ar o mais que consegue e, como que apontando uma frase num quadro, mostra-me o óbvio que eu ainda não tinha conseguido ler:
"PARABÉNS MÃE! Não acredito que não tinhas reparado."
"Não tinha mesmo, minha linda. Ainda bem que me mostraste. Olha, o semáforo está vermelho de novo..."
"Não faz mal. Esperamos que fique verde 'outa' vez. Olha para a lua! Também te está a dar os parabéns!"

Aceno aos astros e agradeço:
"Obrigada estrelas! Obrigada lua!"

Obrigada Té, pela tua magia.