quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Happy New Year



Noite de Passagem de Ano. O pai teve de arrancar para a fábrica antes das dez pelo que jantámos bem mais cedo do que o habitual. Que havemos de fazer até à meia-noite? Uno Attack? Boa ideia, vamos a isso. O primo Manel é muito pequeno para jogar por isso fica com a função de carregar no botão do lançador de cartas. A coisa corre estranhamente bem. Tão bem que a Té insiste em repor sistematicamente o baralho no lançador tornando o jogo interminável. Ao fim de quarenta e cinco minutos eu peço ao Tommy para me substituir. O jogo acaba pelas onze. Parece que ganhei. Está visto que para ter sorte preciso mesmo de ter alguém a segurar nas cartas por mim. 

E agora, que fazemos? Esperamos. Já só falta uma hora. Uma hora passa num instante. 

“Mãe... quando é que vamos para casa?”

“Quando for meia-noite.”

“Só?!”

“Ti, já te disse que é noite de passagem de ano. Temos de esperar pela meia-noite. Brinca mais um bocado.”

“Já não sei a que brincar.”

“Joga qualquer coisa no meu iPad.”

“Não posso. O Tomás está com ele.”

“Tommy! Não instales mais jogos no meu iPad se fazes favor…”

“Não é um jogo, mãe. É uma coisa importante.”

“Que coisa importante?”

“Depois vês, ok?”

Dou meia volta e vou até à sala onde avós, bisavós, tios e primos conversam animadamente. 

Onze e meia. Talvez seja melhor começar a tratar das passas e das uvas (para os que,como eu, não comem passas). Conto três dúzias de uvas que coloco em três copinhos.

“Meninos, segurem aí nas vossas uvas.”

O Ti agarra o copo, espreita para o fundo e resmunga:

“Eu não vou comer isto.”

“Vais sim. “Isso” são uvas. Bem boas, por sinal."

“Porque é que eu tenho de comer uvas?”

“À meia-noite comemos doze uvas cada um. É tradição.”

“Tradição?”

“Sim, tradição. Para dar sorte para os próximos doze meses.”

“E se não comer todas como é que se sabe quais são os meses em que vou ter azar?”

“Não se sabe.”

“Não tem lógica nenhuma, isto das uvas.”

Afasta-se, resignado, com o copo das uvas na mão.

Onze e cinquenta. É melhor ligar a televisão, para estarmos atentos às doze badaladas. Na tvi, de preferência. Estas galas não são o que eram no tempo do saudoso BigBrother do Zé Maria mas passar o ano sem a (sempre enervante) Teresa Guilherme não é passar o ano.

Onze e cinquenta e cinco. Tudo em posição à volta da mesa. Taças de champanhe a postos. Talvez seja melhor não subirmos para estas cadeiras que são pouco estáveis. Antes que tenha tempo de partilhar esta minha preocupação já vejo metade da família a empoleirar-se nas cadeiras. 

O Tommy surge a correr ostentando orgulhosamente o iPad onde conseguiu ligar-se ao pai via Skype. Levanto alto o iPad para que o André possa, no recato do seu gabinete, ver as caras de todos os que lhe desejam uma boa passagem de ano.

É agora! Dez… nove…

O Tommy começa a gritar. A cadeira (pouco estável, eu bem digo) fechou-se no momento em que tentou subir e está com o tornozelo preso. Peço desculpa ao André e “pouso-o” na mesa. Quando consigo libertar o pé do meu filho já está tudo a brindar e a gritar “Bom Ano!!”. 

Volto ao André que passou os últimos segundos de 2014 a observar as decorações de Natal que a minha mãe tem suspensas no tecto da sala. "Bom ano, meu querido. Tommy, Té, Ti! Venham dizer bom ano ao pai!" 

Tomás, O Estouvado, saúda o pai com aquele sorriso delicioso que só ele sabe fazer. 

Teresa, A Romântica, fica agarrada ao iPad a fazer festinhas ao papá. 

Tiago, O Pragmático, ainda está em cima da cadeira. Comeu só metade das uvas. Ajudo-o a descer com a conveniência de nem mencionar o costume do pé direito.

“Bom ano Tiago! Brinda comigo com o teu copo de uvas.”

“Brindar também dá sorte?..”

“Brinda lá e cala-te. Dá um beijinho a todos e depois veste o casaco. Agora sim, está na hora de irmos para casa."

“Mãe, só uma coisa...”

“Sim…”

“Porque é que, só por ter mudado o ano, fica toda a gente tão entusiasmada?"

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