quarta-feira, 25 de março de 2015

Quando eu for grande...




"Mamã... quando todas as pessoas do mundo morrerem nascem novas pessoas, não é?"

Pergunto-me porque estará a minha filha a questionar a continuidade da espécie humana. Respondo-lhe com um:

"Todos os dias morrem e nascem pessoas para que o mundo nunca fique sem gente."

Sorri, satisfeita.

“Morrem as pessoas que estão muito velhinhas e nascem bebés, não é mamã?”

Aceno afirmativamente. Ela sabe que eu sei que ela sabe que não é preciso ser muito velhinho para partir. Eu sei que ela fica contente quando eu digo que vamos todos durar muito tempo mesmo sabendo que ambas sabemos que a longevidade não é garantida para ninguém. Mas mais vale morrer amanhã convencido que de que se vai viver cem anos do que viver cem anos a achar que se vai morrer amanhã.

“Mamã, quando tu fores muito, muito velhinha…”

“…tu já vais ser entradota.”

Ri-se.

“Já vais ter filhos e netos.”

Franze o sobrolho. Imagino que tenha alguma dificuldade em se ver no papel de “avó Teresa”.

“Já sabes quantos filhos vais ter?”

Levanta no ar a mão que tem livre (a outra está ocupada com duas fatias de pão de forma) e estica os deditos. O médio e o anelar estão amarrados a uma tala pelo que, à vista, só há três. Finjo-me confundida:

“Não sei bem quantos dedos contam nessa mão…”

“Cinco.”

“Cinco filhos?!”

Olha atentamente para a mão. Polegar, indicador, tala, mindinho.

“Quatro, mamã. É melhor contar só quatro.”

“Muito bem. Já vi que vou ter muitos netinhos. E como é que eles se vão chamar?”

“Isso ainda não dá para dizer. Mas já te posso dizer quem vai ser o pai.”

Fiquei assim a saber que o H. vai ser o pai dos meus netos. Não sei se o “avô André” vai achar graça à conversa. Vale o facto de o H. ser do Fcp. Ambas sabemos que isso faz TODA a diferença.